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Vinho industrial Vs. Vinho artesanal

Vinho industrial Vs. Vinho artesanal

Sem querer entrar no terreno minado de vinho ‘’natural’’ contra o ‘’convencional’’, vamos aqui abordar e aprofundar um pouco a visão, muitas vezes destorcida, que as pessoas têm sobre vinho ‘’industrial’’ ou vinho ‘’artesanal’’.
No nosso mundo, que ama divisões, normalmente o industrial do vinho é considerado o vilão, representante das forças obscuras do mal, que faz vinho artificial e só pensa em lucro: um ser condenável; já o artesão é visto como um concentrado de bondade, simpatia e altruísmo, que faz vinho honesto com suor e ética para o bem do planeta: um filantropo.

vinho artesanal clube dos vinhos Óbvio, as duas afirmações são falsas. Primeiramente vamos deixar clara uma coisa: ninguém faz vinho apenas por amor e paixão. O lucro é a finalidade principal atrás de qualquer produtor, como é justo que seja (afinal é o trabalho deles), tanto do industrial quanto do artesão. Dito isto, será que muitos artesãos não gostariam de se expandir até se tornar uma grande empresa? Será que todos eles continuam nesta ‘’classificação’’ porque ainda não conseguiram dar o grande salto, ou porque preferem ficar pequenos mesmo? Deveríamos talvez achar que chegando uma proposta de ampliação do Château Lafite para o pequeno produtor do Marroco ele recuse só
por coerência com o artesanato do vinho? Claro, pode acontecer,
mas sejamos honestos: em quantos casos?

Escala IndustrialClube dos Vinhos

 

Em segundo lugar, quais seriam os dados que definem
e diferenciam realmente um pequeno de um grande produtor?
De fato não existem, não tem uma classificação objetiva.

A superfície de terrenos plantados com vinhedos poderia ser um bom indício. Mas qual o limite que divide o pequeno do grande? 10, 20, 50 hectares?Ademais, muitos produtores sem possuir sequer uma videira conseguem vinificar milhões de litros, apenas comprando uva de terceiros.

Escala Industrial Clube dos Vinhos Então poderíamos talvez utilizar o número de garrafas produzidas como um dado mais confiável. Certo, mas mesmo assim isto é muito relativo, sobretudo dentro dos respectivos contextos: uma casa cuja produção seja de 250mil garrafas é ainda considerada uma vinícola boutique em grandes países produtores do velho continente (como França, Itália, ou Espanha), mas seria já uma super empresa aqui no Brasil, por exemplo. Aí deveríamos talvez levar em conta se a empresa é familiar ou se emprega funcionários. Mas o que acontece quando os filhos do produtor querem seguir outro rumo e ele é obrigado a contratar mão de obra externa? Só por isso não é mais uma vinícola familiar? Por outro lado, se o grande produtor empregasse dezenas de membro da família entre irmãos, primos, noras, genros, tios, sobrinhos, etc. ninguém poderia dizer que não se trata de vinícola familiar, concorda?

Enfim, os parâmetros de interpretação são múltiplos e poderíamos ainda continuar, mas de fato a discussão não leva a lugar algum. Aqui não queremos defender uma ou outra categoria, apenas queremos dizer que é preciso avaliar antes de dar um juízo.

O preconceito que de qualquer forma afeta os grandes produtores cria até uma deformação na parte da comunicação das empresas. Você já deve ter reparado que nenhum industrial vende a própria imagem como tal e sim todos se definem agricultores, mais ou menos orgânicos/naturais, mais ou menos familiares, mais ou menos artesãos. Eles mentem, é claro. Mas até certo ponto. De fato eles são obrigados a sentir vergonha de ter conseguido crescer e expandir a própria empresa, numa lógica contrária a de qualquer outro setor, onde uma grande marca ou multinacional é admirada e imitada. Você compraria um computador, um celular ou uma TV produzidos numa garagem por um pai e seus 2 filhos?

Mas no mundo do vinho existe este (pré)conceito que o vinho de garagem é bom e o do grande produtor é ruim. Sejamos claros, isto é até verdade em muitos casos, mas em muitos outros não. Existem vinhos industrializados impecáveis e vinhos artesanais sofríveis. Inclusive uma grande empresa terá provavelmente controle de qualidade melhor e maior fiscalização, já por contra o vinho artesanal tende a ser mediamente mais caro.

Sabemos que este artigo pode parecer uma apologia ao vinho industrial, mas de fato não é. É apenas um alerta para abrir os olhos e, sobretudo a mente. Aqui não queremos defender nem tampouco acusar ninguém. Nós aqui gostamos de vinho. E se o vinho for bem feito e tiver bom custo o apreciamos independentemente dos números da sua produção. Adoramos alguns vinhos artesanais assim como amamos alguns grandes produtores. Apenas não nos deixamos influenciar por questões ou preconceitos que acabam somente atrapalhando o desenvolvimento deste já difícil mercado. Vinho é sinônimo de alegria e companheiro de bons momentos, portanto vamos curtir e deixar as brigas para os outros.

Fonte: Clube dos vinhos

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