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Sommelier dá dicas sobre como harmonizar vinhos e espumantes com galinhada, pamonha, pequi e outros pratos de Goiás

Sommelier dá dicas sobre como harmonizar vinhos e espumantes com galinhada, pamonha, pequi e outros pratos de Goiás

3º Festival Brinda Brasil chega à Goiânia com possibilidade de degustação de produtos de 20 vinícolas. Em uma hamburgueria da capital, carta de vinhos divide cardápio com os fartos sanduíches.

Goiânia recebe, na quinta-feira (29), a 3ª Edição do Festival Brinda Brasil, que vai promover a degustação de 150 bebidas de mais de 20 vinícolas brasileiras. Para entrar no clima, o G1entrevistou o sommelier Rodrigo Leitão, organizador do evento, que deu dicas sobre como harmonizar vinhos e espumantes com comidas típicas goianas (veja abaixo).

“O Centro-oeste é uma região propícia para o consumo de espumantes porque você tem calor, piscinas, lagos, secura, você precisa de uma bebida gelada. É refrescante. Em Goiás você tem produção de vinho. Na primeira edição tivemos a Pirineus, na segunda tivemos a Goyaz, que é o maior produtor de suco de uva do centro-oeste e produz um vinho que vai sair pro mercado no ano que vem, mas eles trouxeram de amostra”.

“Este ano trouxemos a Serra das Galés, com o vinho de syrah e touriga nacional que eles estão fazendo. Em cada edição a gente trouxe uma vinícola do estado para mostrar que tem esta produção, além dos parceiros que produzem espumantes”, revelou.

O Brinda Brasil vai ocorrer na quinta-feira (29) e na sexta-feira (30), no Mercure Hotel, no Setor Oeste, em Goiânia. Os ingressos variam de R$ 70 a R$ 120, a depender do local de compra do ingresso e da categoria, que pode incluir um jantar harmonizado. Os convites podem ser adquiridos pela internet e também na My Winery, no Parque das Laranjeiras.

Felipe Prigol, dono de adega, e Rodrigo Leitão, organizador do Brinda Brasil, em Goiânia.

Combinando com Goiás

Rodrigo afirma que dá pra tomar vinho comendo uma galinhada com pequi, com empadão, tucunaré e até com pamonha. Ele afirma que existe um truque básico na hora de escolher o melhor vinho ou espumante. Na dúvida, acompanhe um espumante brut, principalmente para os amantes de cerveja.

“Comer em Goiás com vinho é muito tranquilo. ‘Ah, mas eu sou bebedor de cerveja, eu gosto é da textura da cerveja’. Tome espumante que tem a mesma textura da cerveja, vai encher a sua boca de bolinhas, de gás, de pinicadas. Estas pinicadas, estas agulhadas que a gente sente quando bebe um espumante, elas representam o ataque dele, que é a qualidade que você experimenta sem que você conheça. Então, quanto mais pinicada você tiver, mas qualidade este espumante vai ter. Quanto mais a bolinha for pequena e subir com mais intensidade, do fundo da taça pra cima, mais qualidade e mais técnica na elaboração vai ter, mas correto e melhor ele é”, afirmou.

HARMONIZAÇÃO

Galinhada com pequi
“A galinhada com pequi vai harmonizar mais comumente, se for vinho, com o vinho tinto. Por que? Porque é um prato tradicional feito com frango caipira. A textura do frango caipira é mais forte, e ele é um frango com uma carne mais dura. Com sabor muito acentuado, então você pode botar este prato com um vinho tinto leve, um merlot, um marselan, um pinot noir, um tempranilho, um sangiovese frutado. Mas merlot brasileiro, porque estávamos falando de comida brasileira serio o tinto ideal. Quem faz o melhor merlot do Brasil é o Rio Grande do Sul”, afirma.

Pratos com frango de granja
“Se for destes que a gente compra no supermercado, você vai pedir um vinho branco, chardonnay, com madeira”, indica.

Frango que não se sabe a origem
“Combina com espumante brut, um coringa. Sempre que não soubermos o que beber, vamos de espumante brut”, indicou.

Empadão Goiano
“Se o empadão goiano for de calabresa com pimenta, você vai no vinho tinto, neste mesmo merlot. ‘Ah, mas eu descobri aqui que eu tenho um vinho tinto de syrah feito em Goiás’, então vai para ele. Ele está ali intrépido. ‘Ah eu tenho um touriga nacional’, pode ser também. ‘Ah, mas eu estou em um restaurante e não tem nenhum destes vinhos’, merlot. ‘Ah, mas e se for empadão de frango?’, você pode ir no merlot, pinot noir, mas, de preferencia, o chardonnay com madeira”, explicou.

Pamonha
“Tudo combina com vinho. Se for a pamonha com lingüiça, você vai puxar o tinto. Se for a pamonha com queijo, aí você vai para o branco chardonnay. Dificilmente, muito dificilmente, algum prato feito com ingredientes de Goiás vai te puxar um vinho branco sauvignon blanc, que é um vinho mais fugidio, mas leve, que você serve em coquetel ou com comidas quase cruas, peixes na grelha, camarão no bafo”, disse.

Tucunaré
“Se ele for na brasa, chardonnay frutado, sem passar por madeira. Se ele for cozido, ensopado, chardonnay com madeira. Porque vai atenuar a gordura. O peixe quando é grelhado, você consegue fazer com que a gordura fuja um pouco. Quando ele é cozido, ela se mistura no caldo, ele fica forte. Você precisa de alguma coisa que limpe sua boca e o chardonnay com madeira vai fazer isso”, explica.

Alimentos com Pequi
“Lançaram agora um espumante que tem uma uva chamada riesling. Esta uva é apropriadíssima para a nossa querida comida baiana, que é muito condimento. Porque ela naturalmente tende a um doce. A mistura desta uva com chardonnay vai atenuar o pequi. Quando tiver a comida goiana, que geralmente leva pequi, este espumante foi feito para amenizar isso. Existe no mercado em Goiás um espumante brut uma uva específica que acolhe o pequi no paladar e você conseguiu criar um produto que não existia, que é melhor ainda do que o brut”, revela.

Sanduba com Vinho?

Se tem outra coisa que goiano adora é um bom sanduíche. Seja ele do pit dog ou de uma hamburgueria, o paladar com relação aos “sandubas” é quase unânime entre os moradores de Goiás. Pensando em unir este gosto com o consumo de vinho, o chef do Studio Burguer, Lucas Cabral, criou, junto ao cardápio, uma carta de vinhos para que todos pudessem combinar o seu hambúrguer favorito com um vinho agradável, ou simplesmente beber sem necessariamente ter que harmonizar.

“A gente tem essa visão de que o vinho é requintado, merece uma receita, de mostrar o rótulo e tal. Tem o ritual e isso é bacana, mas afasta um pouco. Como somos um restaurante descolado, resolvemos descomplicar o vinho. Trouxemos vinhos jovens, que têm história. Tem um que é feito por jovens da Alemanha em Portugal, em que o rótulo do vinho é um desenho feito por jovens. A gente quis trazer mais a ideia da jovialidade”

“Além dos vinhos serem jovens, eles acompanham carnes mais gordurosas, outros leves, e outros para serem tomados por si só. É isso que a gente quer quebrar: sem regras, sem complicação. Tem que ser prazeroso, simples”, conclui o chef.

O mercado

O empresário Felipe Prigol, dono da Adega My Winery, em Goiânia, é um dos expositores do Brinda Brasil deste ano. Ele afirma que percebe uma crescente popularização do consumo do vinho em Goiás. Ele afirma que tanto as pessoas estão comprando mais vinho, quanto consumindo mais em bares e restaurantes.

“Quando cheguei aqui em 2012 como profissional, eu percebi que existia um mito com a bebida vinho. As pessoas achavam, até criando uma alusão, que pra consumir um vinho você precisava de um tapete vermelho, uma chandelier, um ar condicionado. E, felizmente, com as pessoas viajando, com as informações, com as confrarias, os profissionais, as pessoas têm entendido que pra beber um vinho bom eu não preciso de uma ocasião especial. Um piquenique, uma cachoeira, um bate papo com amigos, é sempre bem vindo um vinho”, disse.

A família de Felipe produz uma marca de espumantes, chamada de Cazzari, que é especialmente produzida para o clima e a cultura de Goiás. Ele afirma que a harmonização com a culinária e os hábitos goianos foi tão intensa, que a bebida foi incorporada na carta de vinhos de restaurantes renomados da capital.

“O chef Ian Baiochi comprou a ideia do My Winery 01 quando ele provou. Ele comprou o produto e colocou, em primeira mão, no Chez, quando ele inaugurou. Ele foi inaugurado com o Cazzari na carta, porque ele provou e falou que queria um produto para harmonizar com os pratos. E ele usa os produtos daqui como ninguém, o ovo caipira, a galinha caipira, e por aí vai. Fez tanto sucesso na carta do Chez que ele hoje colocou nos quatro restaurantes do grupo dele”, revelou.

Adega My Winery, em Goiânia, Goiás.

Espumantes brasileiros

Rodrigo Leitão explica que o Brasil é considerado, no mercado mundial produtor de espumantes, o segundo melhor produtor do mundo. Segundo ele, o país só perde para os champanhes franceses, que são aqueles produtos na região de Champanhe.

“Nenhum espumante do mundo, ou francês da região de champanhe abaixo de mil reais ganha dos espumantes brasileiros de R$ 50, R$ 60 nas competições internacionais. Eu costumo dizer que tomar espumante estrangeiro no brasil é mico. Quem diz que o espumante brasileiro é o segundo melhor do mundo são os especialistas do mundo, e todos os concursos internacionais em que nós só ganhamos ouro, prata e bronze. O Cazzari, por exemplo, é premiadíssimo”, revelou.

O sommelier explicou que o vinho, em outros países do mundo, não é tido como bebida alcoólica e faz parte da cesta básica das pessoas.

“Dos 50 maiores produtores de vinho do mundo, o único país que encara o vinho como uma bebida de elite é o Brasil. Em todos os outros lugares o vinho é popular. Em Portugal você toma oito vezes mais vinho do que cerveja. Na França, idem. O vinho em Portugual, na França, na Espanha, você compra uma garrafa por 2 euros, porque os governos dos grandes países produtores entendem o vinho como um complemento alimentar, faz parte da cesta básica, ele não é encarado como bebida alcoólica”.

Brinda com cachaça

Rodrigo explica que um dos diferenciais do Brinda Brasil deste ano é a participação de cachaças, em meio às vinícolas.

“Quisemos fazer uma experiência maior em Goiânia agregando cachaça, e cerveja artesanal. Goiás é o maior produtor de cachaça e o maior produtor de cerveja artesanal. A ideia é desmistificar o conceito de que vinho é caro, de que o brasil bão produz bons vinhos e mostrar para o público, se eu coloco lá 20 marcas, é muito mais acessível você frequentar um lugar deste e conhecer 20 vinícolas do que ir para qualquer uma outra. Você tem quatro horas a possibilidade de conhecer o maior número de vinhos que você conseguir”, afirmou.

Fonte: G1

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